Friday, October 28, 2005

País quer cinco novos lançadores de satélites até 2022

País quer cinco novos lançadores de satélites até 2022

SALVADOR NOGUEIRA
da Folha de S.Paulo

O governo brasileiro apresentou anteontem, em São José dos Campos, seu plano para dotar o país de completa auto-suficiência no acesso ao espaço. O projeto, divulgado conjuntamente pelo CTA (Centro Técnico Aeroespacial) e pela AEB (Agência Espacial Brasileira), conta com o desenvolvimento de cinco novos lançadores de satélites até 2022, a um custo estimado de US$ 700 milhões.

É o chamado Programa Cruzeiro do Sul, nome que faz referência à célebre constelação do hemisfério Sul, com suas cinco estrelas (Alfa, Beta, Gama, Delta e Epsilon), uma para cada novo foguete.

O lançador Alfa seria uma evolução direta do VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites), foguete que o Brasil desenvolve desde os anos 1980 no CTA, com histórico de dois lançamentos malogrados (1997 e 1999) e um acidente catastrófico, que matou 21 técnicos e engenheiros, em agosto de 2003.

Originalmente, o foguete é composto por quatro estágios (grosso modo, andares de foguete), todos movidos a combustível sólido. O Alfa trocará os últimos dois estágios sólidos do VLS-1 por um de combustível líquido. O projeto será desenvolvido em parceria com os russos, conforme dita um protocolo assinado em Moscou durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Rússia.

"Os russos estarão trabalhando para desenvolver a concepção desse motor", disse à Folha o major-brigadeiro Adenir Siqueira Viana, diretor do CTA. Mas, segundo ele, ainda não há nenhum acerto para ter cooperação russa nos futuros membros da família de lançadores do Cruzeiro do Sul. "O programa espacial brasileiro sempre esteve aberto a parcerias internacionais", diz Viana. "Os russos, agora, aparecem como os parceiros mais promissores, mas ainda não há nada definido."

Não é o que parece, a julgar pela configuração dos futuros lançadores. O Epsilon, por exemplo, é idêntico ao lançador Órion, proposto pelo consórcio internacional Orionspace (www.orionspace.com) para a realização de vôos a partir do Centro de Lançamento de Alcântara (MA). Os demais lançadores (Beta, Gama e Delta) também figuravam de documento obtido pela Folha, apresentado pelos russos ao governo brasileiro no ano passado. O projeto da Orionspace é encabeçado por empresas russas que desenvolveram o desenho do veículo.

Viana diz que o desenvolvimento dos motores de combustão líquida (tecnologia que o país ainda não domina) ocorrerá no Brasil. "Não temos intenção de comprar nenhum pacote fechado", diz. "Vamos desenvolver e fabricar esses motores aqui." De acordo com ele, "o pessoal que tratou disso" escolheu os parâmetros dos veículos após "testar centenas de configurações, fazer simulações".

A combustão líquida dos novos foguetes brasileiros, assim como a do Órion, é baseada em querosene e oxigênio líquidos. É uma opção bem comum, adotada, por exemplo, pelos veneráveis lançadores russos Soyuz, que levam naves espaciais tripuladas ao espaço e também despacham sondas interplanetárias (como a Venus Express, européia, que deve ser mandada para as imediações venusianas nos próximos dias).

Caso o plano dos lançadores se concretize, o que, segundo Viana, dependerá da disponibilidade de recursos, o Brasil estará capacitado a fazer praticamente qualquer tipo de lançamento --inclusive colocar em órbita satélites geoestacionários, usados principalmente para telecomunicações. O governo atualmente tem um projeto vultoso de concepção de satélites desse tipo, orçado em mais de US$ 600 milhões.